sábado, março 03, 2018

O REGRESSO DO RURALISMO

Na nossa tacanhez cultural considera-se a cidade a fonte do pecado e por oposição a estas Gomorras o interior e o seu mundo rural representam as virtudes. é um tique antigo que ao longo dos tempos esteve sempre presente e que com Salazar ganhou foros de ideologia. De um lado os que trabalham e o outro os malandros, de um lado os que fazem uma vida de sacrifício e do outro o deboche, de um lado o dinheiro ganho com suor e do outro o dinheiro fácil.

Nesta luta o meio rural representa o bem e a cidade é o símbolo do mal. Ultimamente este ruralismo ganhou uma nova dimensão, as cidades do pecado passaram a ser o litoral e o meio rural converteu-se no interior. De um lado os negócios fáceis, do outro gente que se sacrifica, que luta contra a adversidade e é vítima de todas as calamidades. Com os incêndios, muitos deles resultado da incúria e abuso das suas próprias vítimas, esta divisão do país ganhou uma forma trágica.

Ainda que este conceito de um interior que fica a meia dúzia de quilómetros do litoral e com excelentes autoestradas chegue a ser ridículo, só num país com muita imbecilidade se considera interior uma distância mais pequena do que o diâmetro de muitas cidades, o certo é que á boleia dos incêndios criou-se um movimento nacional no sentido de tirar dinheiro ao litoral para dar aos pobres do interior, o tal interior que ardeu e fica a meia hora de caro das praias.

Os incêndios ocorrem por causa da desertificação e agora surgiram uns senadores como o Jorge Coelho e o Miguel Cadilhe que têm muito boas ideias para levar gente do litoral para o tal interior ostracizado que fica a meia hora de carro. Ainda mais divertida é a ideia peregrina do Adalberto de promover a migração forçada de Lisboa para o Porto. 

O país descobriu que foi por causa da emigração em massa para a França, por causa de um modelo agrícola com níveis de produtividade que não dava para matar a fome que o interior não se desenvolve e é opor isso que o próprio país se atrasa. Então, a soluça é desertificar o litoral e promover o regresso ás virtudes do meio rural. Esta mistura de salazarismo com maoísmo, das virtudes do meio rural com ideias dignas da revolução cultural chinesa começa a ser ridícula.