quarta-feira, novembro 08, 2017

DAR UM SALTO

Com o ministro da Administração Interna a acompanhá-lo para efeitos decorativos, o ministro da Economia foi ao Web Summit anunciar que no próximo ano iriam ser lançados os vistos gold para jovens empreendedores. A ideia foi boa, mas chegou pontualmente de atraso, o ministro deveria ter ido anunciar que esses vistos já podiam ser emitidos e que muitos dos 60.000 participantes poderiam voltar para o seu país informados. Em vez de um jarro com cabelos brancos deveria ter a acompanhá-lo uma equipa de assistentes disponíveis para dar todas as informações.

Na economia do século XXI é possível dar saltos que eram impossíveis no século XIX e XX, quando o desenvolvimento se media nas toneladas de aço produzidas. Em finais dos anos cinquenta, Mao Tse Tung promoveu o grande salto em frente, queria ser um grande produtor de aço, produziu ferro de má qualidade derretendo as alfaias agrícolas, morreram mais de vinte milhões de chineses. 

Hoje é possível dar saltos em frente sem cometer os erros de Mao. Se não tempos empresários com qualidade e em quantidade devemos criar condições para atrair jovens empresários de todo o mundo, proporcionando-lhes condições para que se instalem em Portugal. Se não temos mão de obra altamente qualificada devemos criar condições fiscais e de instalação para que os mais qualificados de outros países optem por Portugal.

Mas este é um esforço que não deve estar condicionado às agendas de gestão de imagem dos ministros ou a grandes espetáculos de apresentação de simplexes. É um esforço nacional que deve ser feito todos os dias e de alto a baixo nas estruturas do Estado. O país ainda está marcado pela cultura do salazarismo, os diretores-gerais esgotam a sua imaginação em busca de esquemas burocráticos para conseguirem trocos para financiarem mordomias e alcavalas. 

O país está cheio de caçadores de multas, polícias, EMEL, fiscais de todo o género, é uma imensidão de gente a transformar as multas num imposto ou em fonte de financiamento fácil de instituições públicas. Desde o Salazar que se instituiu um imenso proxenetismo que põe as empresas a render. São licenças que se atrasam e multas para tudo e mais alguma coisa, taxas a torto e a direito.

Não bastam discursos e conferências de imprensa no dia de abertura do Web Summit, é preciso trabalhar todos os dias para combater o subdesenvolvimento. Podemos não ter recursos, capitais e matérias-primas, mas poderíamos livrar-nos das muitas sarnas que nos obrigam a coçar-nos a toda a hora e que todos os dias destroem empresas e afugentam empresários e investimento.

Precisa-se de mais trabalho militante e menos gestão de imagem, se o país não conseguir ultrapassar os seus parceiros e concorrentes criando condições para atrair investidores, quadros e cientistas, continuando a assistir à fuga dos melhores quadros, dos capitais e das empresas, dificilmente conseguiremos superar os que nos separa dos países mais ricos.

Ora aqui está uma boa ideia para mais uma prioridade de Marcelo, parece que quando ele denuncia o que quer que seja meio governo mais uma dúzia de diretores-gerais apressaram-se a corrigir aquilo que era mais do que óbvio que já devia ter sido corrigido. Sem dar uma grande palmada é pouco provável que a maioria dos diretores-gerais mexam o rabo.