sábado, setembro 09, 2017

Política da mentira

Um dos aspetos mais curiosos da vida política portuguesa reside no fato de uma boa parte dos intervenientes filtrarem as suas ideias, escondem as suas ideologias, em vez de dizerem o que pensam dizem o que é vendável ou o que os outros esperam ouvir. Passos Coelho não é da extrema direita chique, é social-democrata. Os do BE não são trotskistas, marxistas-leninistas ou maoistas, são de tudo um pouco e usam bandeirinhas de todas as cores. O PCP detesta ditaduras e é o maior defensor da democracia. Os do CDS são todos republicanos.

Todos sabemos que tudo isto é mentira, mas andamos a fazer de conta que não sabemos. A esquerda conservadora detesta a ditadura do proletariado, não há extrema-direita porque a direita ou defende os valores da igreja católica ou é social-democrata. E quando alguém diz alguma coisa que passa dos eixos ouvem-se muitos gritinhos de indignação.

Animado pela grande vitória na Autoeuropa e pelos testes nucleares bem-sucedidos na Coreia do norte, Jerónimo de Sousa deixou o pé fugir para a dança e foi à Festa do Avante fazer um discurso inflamado de defesa implícita da Coreia do Norte, as massas aplaudiram como se estivesse a libertar algo que lhe ia na alma e andava reprimido. De certa forma foi positivo, é tempo de o PCP assumir todas as suas ideias e deixar-se de vidas duplas. É tempo do PCP tirar o comunismo do armário e deixar de recear concorrer às eleições com a sua sigla.

Os campeões da farsa é o BE, quem os ouve até aprece que são uma espécie de Provedor Remédios da democracia. De um dia para o outro o estalinismo, o trotskismo e o maoísmo não só de uniram, como dessa união resultou um novo produto destilado, defensor como ninguém da democracia e de tudo o que seja bons valores, desde a eutanásia á defesa da homossexualidade. Até aqueles que eram considerados lumpen proletariado, são agora espécies que merecem a defesa da sociedade.

Às mentiras típicas da vida política junta-se este jogo de sombras onde cada político e partido não diz o que pensa nem pensa o que diz. É um mundo de mentira e de faz de conta, sem debate de ideias, onde tudo são rasteiras e simulações. De certa forma o discurso de Jerónimo de Sousa na Festa do Avante devia merecer um grande elogio, foi dos poucos políticos portugueses que alinhou o discurso com o pensamento.