domingo, setembro 24, 2017

Autarquias e desenvolvimento: o case study de VRSA


Proa da "Princesa do Guadiana"

Ainda que com recursos limitados as autarquias têm uma palavra a dizer no domínio do desenvolvimento económico, ainda que este seja um tema arredado da agenda de muitas candidaturas autárquicas. O problema é que apostar no desenvolvimento significa apostar a longo prazo e governar a pensar em crianças e jovens que ainda não votam e por isso são desprezados neste processo.

Uma boa parte dos autarcas gasta a sua imaginação em busca de projetos que encham o olho aos eleitores, a lógica é a de fazer obra. Esta lógica política conduz a estratégias aberrantes que comprometem o futuro, é esse o caso de autarquias como Vila Real de Santo António, onde não há esperança para as novas gerações. Neste caso, a situação é ainda mais caricata, não há quase nenhuma obra e a dívida é uma das maiores do país

Em VRSA a gestão autárquica visou apenas consolidar o poder e tirar o máximo proveito dele, levando o populismo a um extremo ridículo. O autarca local trabalhou para a sua imagem, não admirando que sem ter feito nada de palpável se transformou numa figura nacional no plano das autarquias. Gastou rios de dinheiro em projetos avaliados em função do impacto positivo da sua imagem. Foi o caso das famosas operações às cataratas em Cuba, que o tornaram famoso. O ridículo da situação chegou ao ponto de alguns cidadãos terem viajado e em Cuba lá inventaram uma qualquer mazela para os médicos tratarem.

Ao gastar rios de dinheiro na tentativa de fidelizar grupos sociais mais influenciáveis, a CMVRSA negligenciou o futuro. Quando se aposta nas operações às cataratas e nas relações com o Partido Comunista de Cuba esquecem-se os jovens, quando se investem fortunas para trazer o castelo branco para rei do carnaval ou para “oferecer” um bar à astróloga esquece-se a cultura, a educação e o desporto. Quando se aposta no espetáculo condena-se o desenvolvimento.

Sem recursos escassos, com uma localização geográfica periférica, com uma pequena dimensão territorial e com a faixa costeira quase saturada com casario turístico, não é com o Castelo Branco e com a astróloga Maia que se estuda o desenvolvimento. Tem de se apostar no único recurso que nunca faltou em Vila Real de Santo António, os jovens. São várias as personalidades nascidas e educadas em Vila Real de Santo António que têm tido carreiras de mérito ao nível nacional, em domínios como as letras, a medicina ou a economia.

A aposta devia ser nos jovens e no empreendedorismo, algo que sempre sucedeu desde a sua fundação e que nos últimos anos foi esquecido. Os jovens servem agora para ganharem gorjetas em programas ocupacionais ou para levar as bandeiras em arruadas partidárias ensaiadas.

Em vez de promover o empreendedorismo a CMVRSA faz compras duvidosas a empresas unipessoais, fundadas apenas para trabalhar com uma autarquia e que ninguém sabe muito bem o que fazem, além de apoiarem campanhas eleitorais. Estamos perante situações duvidosas que deveriam ser investigadas criminalmente. Mas também estamos perante opções que condenam um concelho ao subdesenvolvimento.

Quando se promovem empresas estranhas, empresas de famílias locais endinheiradas ou se distribuem subsídios para comprar personagens da oposição cria-se uma cultura parasitária que mata qualquer perspetiva de empreendedorismo, promove-se o parasitismo. Este modelo de gestão autárquica pode gerar vitórias eleitorais, mas terá um preço muito elevado no futuro. Os que vendem o seu voto poderão estar a ganhar uns cobres, mas estão comprometendo o futuro dos filhos e netos. Se no país muitos jovens foram obrigados a emigrar, em VRSA serão muito poucos os que conseguirão um emprego para o qual se justifique a escolaridade mínima obrigatória.

O autarca que agora quer ir fazer negócios para Castro Marim deixa um concelho depauperado, com as mesmas carências com que encontrou, com o mesmo número de idosos a esperar pelas mais variadas cirurgias, com uma dívida brutal, com muitos recursos financeiros a gerar no futuro já gastos à custa de contratos manhosos. Enquanto personagens como a Astróloga Maia estão no quentinho do dinheiro dos vilarealenses, estes vão ter a sua terra metida num longo inverno de subdesenvolvimento.