quarta-feira, setembro 06, 2017

A corrida ao pote



Anda por aí muita gente a achar que um crescimento de 2,5% sobre uma base que nos últimos anos se traduziu numa redução do PIB significa que o país vive em fartura. Já ninguém se lembra da dívida soberana, das consequências da austeridade nos rendimentos da classe média ou do aumento generalizado dos impostos sobre o consumo.

PCP e BE reivindicam como se, de repente, o país estivesse rico, enquanto os grupos profissionais melhor organizados e com maior capacidade de penalizar o país se movimento no sentido de serem os primeiros a ir ao bolo. Na Autoeuropa os trabalhadores, que estiveram à margem da austeridade, querem uma parte maior na rentabilidade da empresa e jogam num conflito laboral ignorando o risco de lhes acontecer o mesmo que sucedeu com outras fábricas de automóveis.

O próprio PSD que há bem pouco tempo anunciava o diabo e viveu mais de um ano na esperança de um segundo resgate, faz agora tudo para impedir o governo de controlar a despesa pública, montando mesmo uma geringonça alternativa com o BE em torno das cativações, um mecanismo orçamental que sempre existiu e de que ministros do PSD como Manuela Ferreira Leite usaram e abusaram.

Não sei onde está a fartura de que tanto falam e muito menos a devolução dos rendimentos que a Geringonça apregoa, a verdade é que fora o subsídio de Natal, que pago mensalmente cria uma ilusão de rendimento mensal acima do real, recebo menos 18% líquidos do que recebia em 2010, suporto austeridade desde que de uma penada Sócrates cortou 10% dos ordenados no Estado.

Isto significa que uma parte da fartura que alguns querem repartir, em especial os enfermeiros ditos especialistas, os magistrados e os professores, não é mais do que a folga das contas públicas gerada pelos cortes de rendimentos que permanecem. 

É bom recordar que o PSD e CDS não cortaram rendimentos através dos mecanismos da sobretaxa de IRS ou dos cortes de vencimentos e pensões. Além destes cortes a direito introduziu muitos mecanismos de cortes de rendimentos encapotados das mais diversas formas, recorrendo a todos os mecanismos possíveis nas contribuições, sociais e nos mais diversos impostos. A estes cortes importa acrescentar o aumento da despesa das famílias em resultado do aumento dos impostos sobre o consumo que, entretanto, foram decididos.

Se por um lado a Geringonça devolveu uma parte dos rendimentos (recorde-se que ainda há muita gente a suportar a sobretaxa), por outro uma boa parte dos rendimentos dos funcionários públicos foram perdidos definitivamente. É daqui que resulta a fartura orçamental que enfermeiros, magistrados, professores e outros grupos profissionais mais gulosos, com o apoio do PCP e do BE, querem partilhar como se o pote de mel fosse dos que têm maior capacidade reivindicativa. Até parece que querem repartir o que foi tirado a outros trabalhadores antes que a fartura se acabe.