sábado, junho 24, 2017

Umas no cravo e outras na ferradura



 Jumento do Dia

   
Miguel Pinheiro, jornalista do Observador

Quem lê o título do artigo deste jornalista do Observador é levado a pensar que alguém tentou calar os jornalistas portugueses, algo que, felizmente, este corajoso jornalista, tal como uma boa parte dos jornalistas vivos da nossa comunicação social não sabem o que é. Ninguém neste país, governo ou oposição ou mesmo os bombeiros ou polícias incomodaram os jornalistas ou condicionaram o seu trabalho. O contrário talvez, não foram raras as imagens de bombeiros e agentes da autoridade pedindo para que os jornalistas os deixassem trabalhar.

Também se ficou com a impressão de que os centros de comando de combate ao incêndio eram centros de imprensa e que os que alia estavam tinham por função recolher notícias para alimentar o jornalistas ou que acompanhavam os incêndios para informar as televisões sobre os locais onde podiam obter as imagens mais chocantes.

mas suscitar esta questão neste momento pode revelar uma intenção um pouco mais manhosa, tenta-se passar a imagem subliminar de que alguém quer calar a verdade. Trata-se de uma mentira, nunca se viu um incêndio com tanta informação para os jornalistas. Ouviram-se muitas criticas mas não vieram de governantes, políticos da oposição e autoridades no local, viera de pessoas que se indignaram ou, como sucedeu, com o trabalho de Judite de Sousa, de outros jornalistas.

É informar entrevistar um homem poucas horas de ter visto a mulher e duas filhas morrerem em consequência de uma decisão sua' Isso é notícia? A vítima estava em condições de decidir o que seria melhor para ele naquele momento ou muito simplesmente se aproveitou a vulnerabilidade quem sofria para vender mais edições do Público.

É informar  entrevistar o sogro de uma vítima cujo cadáver está ali ao lado? É informar perguntar o que pensam de estar ali no chão a aguardar que as autoridades os retirem a familiares em sofrimento?

É sobre este género de situações que o jornalista do Observador se devia pronunciar em vez opinar sobre críticas as jornalistas sem referir quais as pessoas que fizeram as críticas que merecem a sua opinião. Diz que quem regressa dali não volta a ser o mesmo e tem toda a razão, mas regressa para o conforto do seu lar, para a comodidade da sua redação e para os braços dos entes queridos.

Mas como ficam aqueles que foram tratados como animais de circo para sucesso dos jornalistas? Como fica o homem que foi exibido a toda a página do Público dizendo que tinha mandado a família para a morte? Como fica o senhor que estava apático ao lado do carro onde tinha morrido um genro? Como estarão as senhoras cujos familiares eram cadáveres aparentemente esquecidos pelas autoridades? Não, não importa como esses ficam e é melhor não criticar os jornalistas porque eles têm o poder de destruir quem os critica ou, muito simplesmente, os políticos de que eles ou os seus patrões não gostam.

Não caro Miguel Pinheiro, ali para os lados de Pedrogão foram vistos muitos bons jornalistas, mas também andou por lá gente a ganhar à conta da desgraça alheia, os abutres. E não foram apenas os que andaram a roubar nas aldeias abandonadas, em matéria de abutres a nossa fauna é mesmo muito diversificada e, infelizmente, ao contrário de toda a biodiversidade queimada, essa fauna não foi queimada pelo fogo.

«Este texto não é corporativo. Ou antes: é. Ou melhor: é mais ou menos. No meio de tudo o que tem acontecido, a última coisa que eu queria era escrever sobre jornalistas. Mas tem mesmo que ser, porque, nos últimos dias, regressou a velhíssima caricatura do jornalista-abutre. Aqui no Observador, por exemplo, Miguel Tamen seguiu esse tortuoso caminho; no Público, a quota foi preenchida por António Guerreiro; na SIC Notícias, por José Pacheco Pereira.» [Observador]

 Agora dava jeito um cata-vento

O que dava jeito a Passos Coelho é que o Presidente da República mudasse de opinião cada semana, que na semana passada estivesse solidário com o governo face à crise dos incêndios e que esta semana se juntasse à oposição oportunista para crucificar o primeiro-ministro ou, melhor ainda, atirá-lo para o fogo do inferno, a lembrar o desejo do líder do PSD que o diabo aparecesse no país para o ajudar a chegar ao governo. Digamos que o que dava mesmo jeito a Passos Coelho era que Marcelo fosse mesmo o cata-vento que um dia ele sugeriu que era.