terça-feira, maio 16, 2017

Uma desvalorização fiscal bem sucedida?

Se bem me lembro a política económica de Passos Coelho assentava numa desvalorização fiscal e muitas das medidas adoptadas com o argumento de se ir além da troika e justificada por Passos dizendo que estávamos fazendo s sacrifícios pro nós e não porque nos obrigassem. Nos primeiros tempos do governo de Passos não faltaram economistas em busca de notoriedade que opinaram em artigos de jornais ou em declarações televisivas a favor da desvalorização.

A tese era simples, como com a moeda única se tinha perdido a possibilidade de recorrer à desvalorização cambial, a única forma de conseguir um aumento da competitividade externa das empresas era promovendo uma redução dos custos do trabalho através de uma desvalorização cambial. Curiosamente, por oposição a esta solução o PCP defendeu sempre a saída do euro para repor a soberania nacional, isto é podendo recorrer à desvalorização cambial.

A esta desvalorização cambial Passos Coelho chamou "ajustamento", tendo separado na sua linguagem o ajustamento no Estado e o ajustamento no sector privado. A determinada altura Passos dizia mesmo que o ajustamnto no Estado estava concluído, faltava fazer o ajustamento nas empresas privadas. Com o argumento do desvio colossal, explicado de forma ridícula por Gaspar, Passos cortou os rendimentos dos trabalhadores do Estado em mais de 25%. Depois tentou fazer o mesmo no sector privado com o golpe da TSU, tendo falhado devido à oposição dos portugueses.

Acabou por tentar a desvalorização fiscal do sector privado através dos impostos sobre o rendimento, a ideia era baixar o IRC compensando a perda de receitas com o aumento do IRS que decidiu com a aplicação da sobretaxa. Fez de tudo para baixar os salários, desde os cortes nos rendimentos aos feriados de trabalho escravo, tudo servia para que se desvalorizasse o factor trabalho.

Só que o modelo falhou, o ambiente de terror com ameaças sistemáticas de mais austeridade, a fuga de trabalhadores para o estrangeiro, em especial de quadros, a perda de confiança dos consumidores e investidores, conduziu a uma recessão e o próprio Cavaco Silva receou o risco de uma espiral de recessão. No fim o processo parou em ano de eleições e porque o Tribunal Constitucional declarou a inconstitucionalidade dos cortes de vencimentos e pensões.

Corrido do poder Passos ainda teve a esperança de regressar, daí a sua histeria com as chamadas reversões, esta significavam o desmontar de uma desvalorização que tinha ficado a meio e que com a vinha do diabo tinha a esperança de poder continuar. A devolução de rendimentos significou muito mais do que uma política expansionista, foi acima disso o demonstrar de uma política tenebrosa de desvalorização fiscal que tinha falhado, apesar do seu autor iletrado não estar convencido. Portugal não se transformou na economia mais competitiva do mundo como prometeu Passos, transformou-se num país triste de onde os jovens fugiam e onde ninguém investia.

Vir agora dizer que o sucesso económico é o resultado de uma política nefasta que contra a sua vontade foi desmontada só revela a falta de honestidade intelectual de um Passos Coelho que nunca teve a coragem de assumir as suas políticas e intenções, convencido de que além de piegas os portugueses são uns imbecis que ele engana com facilidade.