terça-feira, fevereiro 14, 2017

Percepções



A arte dos políticos está em anteciparem qual é a percepção que os eleitores têm do que fazem ou dizem, daí a importância que dão à comunicação. Veja-se o caso de Cavaco, quando era primeiro-ministro dava a imagem de um verdadeiro Marquês de Pombal, com a secretária cheia de novos projectos, mas há quem diga que no seu gabinete só haviam sondagens. Não admira que a sombra da sua carreira tenha sido um jornalista, a famosa fonte de Belém.

Passos já mudou de estratégia política por várias vezes desde que uma nova maioria parlamentar dispensou os seus serviços. Sempre que o fez teve maus resultados, um sinal de que a percepção dos eleitores é diferente da que pretende conseguir. Longe vão os tempos em que Relva contava com uma matilha de blogues (gente que pode ficar descansada porque o fiscal de Braga não desconfia deles), em que tinha uma “boa imprensa”, num tempo em que as forças vivas da nação” apostavam nele.

O líder do PSD parece não perceber o que lhe está sucedendo e ainda recentemente cometeu mais um erro, rasteirou os parceiros sociais, convencido de que a confusão o favorecia. Julgava que ia passar a imagem de um governo desorientado e incapaz de funcionar apoiado na esquerda. Teve azar, a percepção dos portugueses foi a de que Passos seguiu uma estratégia de terra queimada, desceu mais um ponto nas sondagens.

No caso da CGD Passos luta furiosamente, deixar de estar no domínio do racional para actuar por instinto, tentando desesperadamente sobreviver. Os resultados orçamentais e os elogios da Comissão Europeia põem fim à sua estratégia da terra queimada, deixa de ter esperança num segundo resgate. É preciso fazer com que ninguém leia as boas notícias e derrubar o governo a qualquer custo.

O ataque é feito em duas frentes, manda atirar sobre Marcelo, o primeiro tiro é dado de forma inteligente por um dos seus críticos, mas o PSD comete o erro de permitir a percepção de que a crítica iniciada por José Eduardo Martins não ter sido espontânea, é igual a uma barragem de críticas que se seguiram. Os eleitores vão mudar de opinião acerca de Marcelo, pressionando a mudar de posição, como pretende Passos Coelho. É mais provável que a percepção dos eleitores seja diferente, que vejam nesta estratégia os gritos de um afogado .

Quase em simultâneo há um ataque cerrado a Centeno por causa de uma suposta mentirita. Mas a percepção dos cidadãos pode ser outro, podem pensar que Passos tenta a todo o custo derrubar aquele que pela sua competência, sucesso e credibilidade internacional é a trave mestra do governo. A percepção dos eleitores pode ser a de que Passos não hesita em desejar mal ao país e aos portugueses só para conseguir subir um ponto nas sondagens.