sábado, novembro 19, 2016

Azares do Diabo


"O Diabo se faz ermitão", provérbio popular
Imagem de hoje publicada na edição online do Público

O PS era liderado pelo dócil Seguro, o país estava à beira de uma saída limpa, a direita manda na Europa e era amiga de Passos, o ministro alemão das Finanças organizava falsos seminários para apresentar a Maria Luís, Portas estava domesticado, tudo corria bem a Passos Coelho, tão bem que este se dava ao luxo de dar ares de ser ele a escolher o próximo presidente, alguém que fosse tão dócil quanto Cavaco Silva, a confiança era tanta que até se permitia humilhar Marcelo, apelidado um dos militantes que mais tinha dado a PSD de cata-ventos. Mas Passos teve azar e Marcelo Rebelo de Sousa chega a presidente, sem o seu apoio, sem a sua presença na sua campanha e dispensando o PSD.

Certo de que a esquerda nunca se coligaria apostou tudo numa vitória eleitoral sem maioria parlamentar, convencido de um segundo resgate e uma crise política seria a oportunidade de antecipar eleições e conseguir a maioria absoluta. Estava tão certo disto que aceitou formar um governo de faz de conta e ainda hoje não se conformou porque os seus préstimos governamentais foram dispensados por uma maioria parlamentar. Acabou no ridículo propondo uma revisão constitucional à pressa para antecipar eleições, teve azar.

Convencido de que a geringonça não duraria e que os seus amigos da Europa viriam em seu auxílio, com exigências de plano BE, chumbos dos orçamentos, sanções e outras ameaças optou pela pantominice do primeiro-ministro no exílio, em vez de se assumir como líder da oposição, deixando este papel a uma Assunção Cristas que já pensa forçar o PSD a apoiá-la nas autárquicas de Lisboa. Teve azar, a geringonça está para durar e Passos nem é líder da oposição nem exilado, está na terra de ninguém da política.

Deixou as contas fiscais armadilhadas, Paulo núncio tinha aldrabado as receitas de 2015 para criar a ilusão da sobretaxa e ajeitou as contas de 2015 com retenções na fonte excessivas. Com um buraco fiscal herdado de 2015 bastaria que as receitas fiscais ficassem abaixo do previsto para 2016 para, a dois meses da reavaliação do rating da DBRS, o país poder resvalar para um segundo resgate. Mas teve azar, o desastre anunciado para Setembro não aconteceu e Passos acabou por cair no ridículo.

Quando se imaginava a ir em ombros para o poder por alturas de São Martinho, com o governo a arder na fogueira da estagnação e do segundo resgate, tudo lhe correu mal, as contas estão controladas, as receitas fiscais aguentaram-se, a despesa foi controlada e Portugal é elogiado na Europa. Nem o governo, nem o país arderam nos incêndios atiçados pelo verão de São Martinho, foi azar.

Passos é a personalidade política na história de Portugal desde o tempo dos Távoras, é caso para dizer que foi mesmo um azar do Diabo de Massamá.