segunda-feira, outubro 10, 2016

Umas no cravo e outras na ferradura


  
 Jumento do dia
    
António Saraiva, camarada da CIP

Por vontade do ex-dirigente da CIP e antigo militante do PCP os trabalhadores não deveriam ganhar para comer a fim de assegurar a competitividade de empresas preguiçosas que apenas sabem aumentar a produtividade reduzindo salários, só assim se explica que as empresas portuguesas só conseguem competir na Europa com salários que são metade dos da concorrrência.

«O presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, defendeu que o salário mínimo nacional (SMN) não deverá exceder os 550 euros.

“Reconhecemos que 530 euros é um valor baixo e temos que crescer nesse valor”, mas “nas contas da CIP não chega aos 550 euros”, afirmou António Saraiva, em entrevista à TSF e ao DN, este sábado.

O responsável sustentou que o aumento do SMN deverá ter em conta o contexto do país, nomeadamente as dificuldades de financiamento das empresas.

“Vamos ser razoáveis: se o Governo congela os ordenados da Função Pública, por razões que todos conhecemos (...), quando o que está em discussão para as pensões são 10 euros, quando temos esta realidade, as dificuldades em que nos encontramos todos e as empresas não são exceção, quando temos as dificuldades de financiamento, querer fazer coisa diferente na politica salarial das empresas” será negativo, justificou.» [Expresso]


 Dúvidas que me atormentam a alma

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De certeza que os Estados Unidos são um país civilizado ou aquilo começa a ser um califado de idiotas? O problema não está nas baboseiras que o Trump diz, está nos mais de 40% de americasnos que dizem ir votar nele que gritam de forma histérica qualquer que seja a barbaridade que ele diz.

 A justiça fiscal segundo Passos Coelho

Passos Coelho decidiu teorizar sobre as vantagens dos impostos directos em relação aos indirectos. Sugere que os primeiros são mais justos e isso é tuido menos verdade, depois de ter decido sujeitar apenas alguns às suas medidas de austeridade, agora pretende eternizar essa situação, tudo fazendo para que seja reposta a justiça. Passos, tal como já tinha sucedido com portas, é um falso amigo dos contribuintes. Os únicos amigos de Passos são aqueles a quem ele perdoou na aplicação de medidas de austeridade, os ricos, é assim a fiscalidade da extrema-direita chique que quer regressar ao poder.

 O livro do "alcoviteiro" de Belém

Não é fácil fazer um comentário sobre o livro “Na sombra da Presidências”, da autoria de Fernando Lima, antigo assessor de imprensa de Cavaco Silva, ao longo de quase toda a sua carreira política. Não sei se é um livro de alguém vingativo ou se de alguém que ao longo de quase toda a vida serviu um político e teve como paga uma dispensa motivada por cobardia. Não sei se é de alguém lúcido ou se de um jornalista que depois de anos a construir a realidade política acabou por a confundir com os seus próprios fantasmas.

É um livro contraditório, por um lado evidencia-se um servilismo quase canino em relação a alguém tão humano como qualquer um de nós, uma lealdade que não foi premiada na hora da verdade. Não se percebe se Cavaco é elogiado ou se é apresentado como um produto político moldado pelo assessor. De certa forma este livro trz-me à memória o testamento político de Miguel Relvas, nele o ex-ministro quase diz que Passos foi uma invenção sua, não se percebeu se estava a elogiar o líder ou se num momento de vingança procura desmascarar a sua invenção.

O autor tenta provar que foi vítima de uma cilada, mas o tema principal são escutas, espiões e manobras secretas. Lisboa parece ser a Berlim da Guerra Fria, quase recuamos aos tempos da Segunda Guerra Mundial, quando a nossa capital também era povoada de espiões. Mas ao contrário da Lisboa da guerra e da Berlim da Guerra Fria nesta Lisboa só os maus escutam, espiam, perseguem, atemorizam e os maus são sempre comandados pelo diabo feito Sócrates.

Se o espião é do PSD tem um amigo que por sua vez é amigo de Sócrates e, portanto, todos, da direita à esquerda, são espiões, provocadores, informadores, vigilantes ao serviço de Sócrates. Até este modesto blogue, criado quando Sócrates ainda usava fraldas, no início da sua carreira política, era um instrumento ao serviço de Sócrates. Como vamos ver, era mesmo uma das mais perigosas armas de Sócrates. Até se sugerem gorjetas para alimentar o burro.

Os meus sentimentos em relação ao autor, ainda estive para ir à apresentação do livro e apresentar-me no momento do autógrafo, mas não sei como me deveria apresentar já que no livro sou várias personagens. Ainda pensei convidar o autor para uma troca de palavras, mas não sei se ele está interessado em confrontos com uma realidade que pode não ser a sua.

Não deve ser fácil ser abandonado por alguém que se tinha por amigo há décadas, alguém que estamos convencidos de que tudo nos deve, desde as maiorias absolutas aos livros dos roteiros, chegar ao fim de uma carreira e quando esperamos coragem de alguém que ensinámos a ser corajosos vemos o homem que não quisemos ver e em vez de um gesto solidário somos cuspidos como se fossemos uma pastilha elástica inútil de tanto ser mastigada.

Não sei o que sentir em relação a Fernando Lima, não é pena, não chega a ser ódio, não é vontade de rir e muito menos de chorar. Mas não gostaria de ter ido tão alto como ele para depois conhecer o lado mais baixo dos outros. Precisou de décadas para conhecer o Cavaco que sempre vi.

      
 Para lá da geringonça
   
«Os principais indicadores económicos não deixam margem para dúvidas: um crescimento económico anémico, um reduzidíssimo investimento público e privado, a taxa de poupança a níveis preocupantes, as exportações a decrescer e, claro, a dívida a aumentar. Desta forma, e não havendo perspetivas de a política europeia mudar de forma significativa nos próximos tempos, estamos condenados a um pântano que irá criando cada vez mais desalento, falta de horizonte e uma degradação da situação social que, inevitavelmente, acarretará problemas políticos.

No entanto, temos uma situação política estável e pacífica. O nosso sistema político--partidário não sofreu, nem parece em risco de sofrer, transformações relevantes, não há no horizonte forças populistas, os partidos não crentes no capitalismo e defensores de confrontações com a Europa estão calmíssimos e presos a uma solução que lhes limita a ação. E, dado também raro nos países que mais penaram e penam com a crise, os dois partidos centrais no quadro partidário mantêm a sua força relativa.

Importa perguntar, se a presente solução governativa não existisse poderíamos dizer tudo isso? Não, não podíamos. Concorde-se ou não com a maioria das medidas deste governo, critique-se ou não o cerne do acordo entre o PCP, o BE e o PS.

Em primeiro lugar, não me parece que existam dúvidas de que se o PS tivesse viabilizado um governo PSD-CDS, quer através de abstenções violentas quer estando no executivo, já estaria em curso a pasokização dos socialistas. A oposição estaria concentrada no BE e no PCP, que, por esta altura, teriam já uma enorme relevância e crescido nas intenções de voto. E, com certeza, com um discurso muito mais violento em relação aos compromissos europeus. O facto é que estes dois partidos sacrificaram muitas mais das suas bandeiras do que o PS. Bem sei que não é esse o discurso da oposição, mas o problema desse discurso, como outros aspetos, é o de não casar com a realidade. No fundo, a questão vital é: este governo pôs em causa os compromissos europeus - apesar de um salutar não comer e calar tudo? Claro que não. Não era a narrativa do BE e do PCP confrontativa com a Europa ? Claro que sim. Assim sendo... Trazer estes dois partidos para próximo da governação não só os obrigou a uma, digamos, responsabilização como a um discurso bem menos radical - é ver Catarina Martins a recusar-se a traçar linhas vermelhas.

Aliás, não é por nenhum tipo de gosto especial por esta solução governativa ou pela ideologia dos partidos que a compõem que o Presidente da República a tem ajudado. Abrir o leque de possibilidades de acordos para a governação num sistema constitucional não desenhado para que se obtenham maiorias dum só partido, moderar partidos radicais e garantir que os partidos do centro não se diluam são aspetos que o garante pelo bom funcionamento das instituições e pelo equilíbrio do sistema não pode deixar de levar em conta.

Há quem pense que se perdeu o centro, que esta divisão marcante entre direita e esquerda, que se afirma ser uma das consequências dos acordos de governação, perdurará por muito tempo. No fundo, defende-se que os acordos à esquerda fizeram que o PSD se acantonasse à direita. Nem uma coisa nem outra são verdade. Primeiro, a governação está longe de se afastar duma matriz social-democrata, há pouco tempo e em termos europeus pareceria absolutamente comum, as companhias do PS não o afastaram, nos temas essenciais, dessa linha. Em segundo, foi o PSD que, como nunca, se encostou à direita.

Ora, nem o PS abandonou o centro nem o PSD está, muito longe disso, definitivamente afastado do centro político que sempre foi o seu lugar. O facto é que a base social de apoio do PSD não partilha dos valores ideológicos e programáticos da atual direção. Não houve uma súbita viragem à direita do eleitorado do PSD. Basta conhecê-lo muito vagamente para se saber que é um defensor do Estado social, da escola pública, de um Serviço Nacional de Saúde forte e desconfiado de muitas privatizações feitas, só para dar alguns exemplos. O PSD nunca foi um partido de direita como, por exemplo, o PP espanhol. Foi flutuando entre o centro-esquerda e o centro-direita, conforme o líder. Para um pragmatismo centrista com Cavaco, para o centro-direita com Durão, para o centro com Santana, para o centro-esquerda (sim, não há engano) com Manuela Ferreira Leite. Só Passos Coelho quebrou as margens em que o PSD foi navegando ao longo da sua história. Não é difícil de prever que a próxima direção do PSD será centrista e verdadeiramente social-democrata. É que só esse caminho o fará regressar ao poder. Mudem as circunstâncias complicadas em que vivemos e os acordos ao centro voltarão.

Repito, não se pretende avaliar a governação, mas o que a solução ajudou a criar num quadro mais amplo e que ultrapasse a conjuntura. O facto é que a gerigonça salvou o PS e em larguíssima medida a saúde do sistema partidário. No fundo, foi preciso mudar alguma coisa para que no futuro tudo continue na mesma. Só que desta feita ficar na mesma é uma boa notícia.» [DN]
   
Autor:

Pedro Marques Lopes.