sexta-feira, março 25, 2016

E se?

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O país vive num ambiente de normalidade constitucional como já não se via há vários anos, o presidente preside, o governo governa, os portugueses podem confiar que logo, mais à noite, não aparece um Gaspar a justificar mais uma medida de austeridade, um presidente a fazer uma comunicação dramática, um qualquer troikano a fazer mais uma ameaça. Os portugueses trabalham, descansam, cumprem os seus horários, gozam dos seus feriados sem terem de ser achincalhados por um governo que os quer exibir como gandulos. Até as agências de notação estão tranquilas, se não fossem alguns jiahdistas do Eurogrupo e do BCE até poderíamos esquecer o que nos fizeram.

Mas tudo poderia ter sido diferente, o Núncio teria inventado um reembolso da sobretaxa, afanosamente preparada durante meses por gente dedicada á causa, a Santinha da Ladeira inventava um milagre económico, a rigorosa e honesta Maria Luís teria reembolsado alguns milhões ao FMI e Passos teria achincalhado ainda mais o Marcelo. Hoje poderíamos ter Passos em Belém e Rui Rio em São Bento.

Agora teríamos um orçamento aprovado sob chantagem ou um país a ser governado com duodécimos, as agências de notação a afazer ameaças, o FMI a lançar alertas, Rui Rio a repetir o discurso cavaquista do consenso, tentando mais uma vez forçar o PS a assinar de cruz todas as sacanices decididas por um Passos que seguiria fielmente a cartilha do falecido Borges. Passos teria motivos para dar o prometido por não prometido e recuaria na reposição parcial dos vencimentos e da sobretaxa com o argumento dos riscos.
  
Passos estaria a conduzir o país para um segundo resgate pois ele não tem qualquer programa viável no quadro da democracia e da constituição, a a sua agenda é de excepção e não prevê qualquer limite constitucional. A esta hora Passos estaria a dizer que este país é inviável com a actual constituição, enquanto Rui Rio pressionaria o PS para aceitar uma revisão constitucional que faria aprovar o velho projecto constitucional que em tempos Passos apresentou.

O país estaria outra vez sob a chantagem permanente encomendada por Passos aos amigos da troika, ninguém saberia se no dia seguinte teria emprego ou o mesmo ordenado, os pensionistas não saberiam até quando teriam direito a pensão. Estaria mais uma vez em ambiente de guerra civil permanente, com o presidente da CIP a mandar na concertação social e a ditar uma boa parte das decisões do governo, cortando em direitos, salários. O país andaria a toque de caixa de gente sem princípios e focada apenas no lucro a qualquer preço.