terça-feira, outubro 27, 2015

Um não falhava, o outro não se enganava

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Passos dobrou Portas como se fosse o Bojador e desde então foi o grande navegador da direita portuguesa, o grande estadista, o homem que conseguiu aquilo que nem Cavaco Silva tinha conseguido, transformar o perigoso líder do CDS num cachorro fofinho destinado a aquecer os pés do líder do PSD.Passos passou a ser respeitado como o negociador infalível, ele tinha enganado Sócrates nas negociações do PEC IV, tinha reduzido Portas a caniche peludo e iria torcer um Costa que açoitado pela esquerda conservadora aceitaria as condições da rendição.

Cavaco era o político que nunca se enganava e que raramente tinha dúvidas, tinha-o provado ao longo de décadas, o país está cheio de avisos enterrados algures e de vez em quando cava um buraco no chão para nos recordar que ele, o saloio de Boliqueime é infalível e já nos tinha avisado, mas nós gente menos dotada do que ele nunca lhe damos a devida atenção.

A direita tinha ganho as eleições por larga maioria, tinha na presidência e no governo dois líderes tão brilhantes que desde que por cá andam nunca mais se fez noite no país, como poderiam enganar, o Costa estava arrumado de vez, o preto, como muito boa gente deste país se refere em privado ao líder do PS, estava arrumado. Na noite eleitoral todos se foram deitar tranquilos com a sensação do trabalho feito, agora bastava aprovar o governo e depois o orçamento e seria uma questão de tempo até o PS impludir, nessa ocasião já Marcelo seria presidente e a realização de eleições antecipadas seria uma questão de tempo. Entretanto aproveitava-se o facto de estar no poder para aldrabar as contas, haveria uma desculpa para o logro do reembolso da sobretaxa, o pobre do Costa do BdP lá aguentava o Novo Banco durante uns tempos, aldrabava-se o défice com mais umas artimanhas da Maria Luís.

O guião estava bem estudado, desde os articulistas do Observador, dos gabinetes ministeriais aos assessores do Cavaco, do José Manuel Fernandes ao fernando Lima, todos estavam bem ensaiados e actuavam de forma irrepreensivelmente sincronizada. Era necessário ganhar a qualquer custo, recorrendo a patranhas como a da sobretaxa, até Cavaco fez campanha enquanto não dava nas vistas. O importante era ganhar nem que fosse por mais um deputado, mesmo que fosse por mais um voto, o importante era manter o poder a qualquer custo e para isso bastava comparar os votos da direita coligada com os do PS, o PCP e o BE não contavam pois desde sempre foram considerados aliados naturais da direita.

Enquanto se contavam e não se contavam os votos dos emigrantes Cavaco lançou a encenação, encarregou o Passos de fazer o que lhe cabia, encontrar uma solução governativa estável. Passos nem se deu ao trabalho de chamar Costa, ele viria comer-lhe à mão e a direita até fez provas de generosidade, fez constar no Observador e noutros pasquins que em troca da declaração de rendição de Costa até oferecia o lugar de presidente da AR a Ferro Rodrigues. A matilha voltou ao computadores, escreveram dezenas de artigos pressionando Costa, que o PS estava dividido, que os seguristas iriam apoiar um governo da direita, que Costa queria salvar a pele, que a vontade do eleitorado era um governo de Passos Coelho.

Arrogante, Passos Coelho atirava com mais um dos seus spin, "era o que faltava que tivesse de governar com o programa do PS". O consenso estava definido, restava a Costa aceitar incondicionalmente as ofertas de boa vontade da coligaçãom, aprovar o governo e o OE e enfrentar os seguristas. O Assis apressou-se a descer à terra, que era mas não era apesar de ser candidato a qualquer coisa. O Beleza receou as investidas do Assis e apressou-se a descer no elevador para anunciar a sua boa nova, se fosse preciso era para isso que ele cá estava.

Costa começou a reunir com o PCP e o BE mas não haviam motivos de preocupações, o Observador ia informando que não havia acordo. que as negociações com o PCP estavam paradas, que o BE exigia a tal praia na Messejana. Mas um dia a Catarina Martins disse que o governo de Passos já era e instalou-se o pânico. Mas não foi nem no mercado da Ribeira, nem na Wall Street, foi no mercado dos tachos de Belém e São Bento, querem ver que o Costa vai mesmo conseguir entender com "eles"? Foi a corrida ao tacho, que não, que era impossível, que a direita ganhava, mas em privado os boys ia ocupando os tachos que ainda estavam vagos.

Cavaco, o tal que nunca se enganava cometeu o erro grave de dizer ao PCP e ao BE que existiam mas não existiam que tinham votos mas fazia de conta que não os tinham, os portugueses votavam neles mas era como se estivessem votando para o circulo eleitoral de Nowhere, uma espécie de localidade da Terrado do Nuca. Para que não tivessem dúvidas fez um segundo discurso ainda mais claro, estavam a mais em Portugal e o Costa ou aceitava as regras ou os seus deputados iriam a correr para o regaço de Passos Coelho.

Desta vez, como sempre sucedeu com Sua Sumidade, o Cavaco de Boliqueime agora enriquecido em Cavaco da Coelha enganou-se. foi logo escolher esta altura para a excepção à regra. E como se isso não bastasse o negociador infalível falhou, o Costa não teve a paciência de Sócrates e não se deixou embarrilar como o Seguro. Agora ambos choram amargamente, um vai ser inexoravelmente corrido da liderança do PSD e o outro vai terminar o seu miserável mandato de presidente com menos dignidade do que Américo Tomaz, arrisca-se mesmo a que alguém lhe sugira que quando no próximo Verão viajar para o Algarve em vez de levar o tradicional Jeep que peça uma Chaimite emprestada ao Exército.