sexta-feira, outubro 02, 2015

Realidades

Fez por estes dias dois anos que sai de um coma induzido e durante um bom par de dias vivi uma realidade que não era a dos outros, uma overdose de químicos fizeram-me perder a lucidez mas não me retiraram as capacidades intelectuais, levando-me a reinterpretar os acontecimentos e o mundo que me rodeava criando a minha própria realidade. Todas as sensações, tudo o que via, todos os que me rodeavam tinham explicação lógica num mundo que criei, um outro mundo em que me sentia estar.
  
Desta vez não foram necessários químicos sedativos para voltar a ter a sensação de que vivo numa realidade, desta vez criada por terceiros. O país não vive uma crise financeira, económica e social, vivem num estado de graças, é um dos países mais competitivos do mundo e até a Alemanha já aldraba o software dos seus carros com medo que algum fabricante de sapatos decidas exportar carros. O aumento do turismo não se deve ao desaparecimento de vários Estados do médio Oriente e a uma guerra fratricida em país que eram destinos turísticos ou ficavam nas suas imediações, multidões de turistas invadem o país para se deliciarem com o sorriso de Porta e para conhecer o último rebento da Assunção Cristas. Os cofres estão a abarrotar e graças às receitas fiscais já deitam por fora ao ponto de n os reembolsarem o que nos cobraram a mais.
  
Há doía anos era eu que delirava e não percebia o porquê de todos à minha volta não se aperceberem do que se estava a passar. Agora tenho a sensação de que o único que está acordado e todos À minha volta vivem momentos de felicidade que eu não consigo sentir.
  
A direita decidiu muito antes da campana que ia ganhar e muito antes das sondagens da Intercampus já a Maria Luís e o pequeno Marco António, agora convenientemente desaparecido em parte incerta porque se olho não ê o Alexandre não prende, diziam a empresários convocados para uma reunião que estavam na posse de uma sondagem que dava à direita um avanço de 60% sobre o PS.
  
Algo está errado na realidade que me dizer ser a que me rodeia. Vejo um país que sem o colinho do BCE estaria condenado a um segundo resgate e a uma saída compulsiva do euro mas dizem que os cofres estão cheios. Vejo um país arruinado, a perder os melhores jovens e sem investimento mas dizem ser o tigre da Europa. Vejo velhos sem medicamentos, mães que os filhos partiram, trabalhadores sem esperança de o voltarem a ser, mas dizem-se que estão todos felizes e vão votar na direita.
  
Há dois anos atrás fui e que estive em coma induzido, agora foi todo um país que esteve em coma depois de uma overdose de troika, talvez seja por isso que uma boa parte do país esteja a delirar e a viver numa realidade criada artificialmente.