sábado, outubro 24, 2015

A factura

Quis o destino que Cavaco e Passos estejam juntos na hora da apresentação da factura dos erros do governo da direita, iludiram os portugueses com a saída limpa, esconderam os desempregados atrás de estagiários, manipularam as contas públicas para inventar sucessos e sustentar mentiras eleitorais. Cavaco percebeu muito cedo que mais tarde ou mais cedo a direita teria de pagar a factura e desde então que tenta a todo o custo dividir essa factura com o PS.
 
Passou anos a falar de consenso e a única vez em que uma tentativa de consenso teve em cima da mesa com a presença de um polícia designado pelo próprio Cavaco percebeu-se que esse consenso não visava encontrar políticas consensuais, visava apenas o apoio incondicional do PS à política da direita. Esta tentativa de forçar o PS a apoiar incondicionalmente a direita com base em falas alianças pró-europeias só é nova nos argumentos.
 
Cavaco julgava que iria morrer com direito a um lugar na história, um lugar que inveja em alguns dos seus sucessores e principalmente nessa “besta negra” da família que é Cavaco Silva. Começou a sua presidência com roteiros que visavam branquear o seu passado de primeiro-ministro, chegando ao ridículo de prestar uma homenagem a Salgueiro, ele que foi o primeiro-ministro miserável que recusou uma pensão ao capitão de Abril ao mesmo tempo que a dava a um inspector da PIDE pelos serviços prestados à pátria.
 
Mas em fim de vida e de carreira política Cavaco tem-se revelado um azarento, apanhou um Sócrates pouco disposto a ajudá-lo e a sua resposta foi a que se viu, fez tudo para derrubar o PS e o país ficou incrédulo com o golpe das escutas a Belém. Sócrates desmontou o cavaquismo e pagou um preço elevado, foi derrubado do governo e o que não tinham conseguido com o caso Freeport tentam agora com o processo dos cabritos. Coincidência das coincidências na procuradoria-Geral está uma herdeira do cavaquismo. Mesmo assim Cavaco acabou por ter um azar dos Távoras, quando pensava que ia deixar a presidência com a dirieta no poder e Sócrates na prisão saiu-lhe tudo ao contrário, a direita perdeu o poder e Sócrates está em liberdade.
 
À medida que os dias passam começam a aparecer as contas que ficaram por pagar por causa da tempestade perfeita que resultou da combinação de um governo de incompetentes com um incompetente na presidência. O país já percebeu que o reembolso da sobretaxa era uma patranha, o Novo Banco vai custar e muito aos contribuintes, o crescimento é uma treta e resta saber qual vai ser o défice no final do ano. Era essa a factura que Cavaco queria obrigar o PS a pagar, mesmo depois de a direita ter perdido as eleições graças ao que chamou uma grande vitória.