quarta-feira, setembro 16, 2015

Sejamos honestos em relação ao passado e ao futuro

É fácil condenar alguém que não está nas melhores condições de se defender ou lançar críticas dúbias em que se pretende confundir acusações que ainda não se sabe se o serão e tornadas públicas através de esquemas duvidosos. Esta estratégia não é nova, a direita sempre usou dois truques em simultâneo nas suas campanhas políticas, há sempre um papão associado à esquerda, no passado foi Vasco Gonçalves e agora é Sócrates, e sempre preferiu desvalorizar os líderes da oposição através da manipulação da sua imagem, quem não se lembra da alcunha de Picareta Falante de António Guterres?
  
Todos os males do país são culpa do governo anterior escondendo-se um longo passado de desequilíbrios externos e dois pedidos de ajuda externa, um deles consequência da crise petrolífera e dos desvarios financeiros do pós 25 de Abril, o outro resultou da incompetência do ministro das Finanças da governo de Sá Carneiro, que com objectivos meramente eleitorais promoveu o aumento da despesa pública ao mesmo tempo que adoptava a decisão populista de revalorizar o escudo, levando o país à bancarrota. Esse ministro foi Cavaco Silva, que uns tempos depois se aproveitou das medidas impopulares que foram impostas pelo FMI para corrigir a sua asneira.
  
A direita tem muito má memória e isso ajuda-a a falar do passado com menos honestidade quando o presente é incómodo, é o que faz agora. É fácil atribuir a Sócrates todos os males do mundo e usar obras que não se realizaram para sugerir que a crise financeira foi um exclusivo nacional ou que as medidas impostas a um país eram a única solução. Mas, a verdade é que não há memória de um debate orçamental onde a direita não tenha criticado cortes na despesa.
  
Não me recordo, por exemplo, de a direita se ter oposto ao investimento nas escolas num tempo em que Angela Merkel defendia a manutenção doo investimento público como resposta à crise financeira americana de 2008. Mesmo em relação a grandes investimentos como o do novo aeroporto ou do TGV a posição da direita foi de oposição, o que estava em causa era a localização do aeroporto ou os locais por onde passaria o TGV.
  
Nesse tempo ainda Passos Coelho andava dedicado às suas paixões e aos copos nas discotecas de Lisboa, a despesa da direita era assumida pela rigorosa Manuela Ferreira Leite. Não me recordo de Manuela Ferreira Leite ter sido contra o lançamento dos grandes projectos, no caso do TGV até era ministra das Finanças quando Durão Barroso decidiu construir cinco linhas de TGV para passageiros! Quando assumiu a liderança do PSD na oposição defendeu que o seu partido devia participar nas decisões em relação a estas obras e antes da tese da falta de dinheiro ainda teve tempo para que o dinheiro das obras públicas deveria servir para ajudar os mais pobres.
  
Nunca concordei com grandes obras públicas, quando Sampaio ainda era presidente e defendia que há mais vida para além do défice defendi aqui que todos estavam esquecidos da dívida soberana, nunca fui grande entusiasta das virtudes do multiplicador de Keynes de que Sócrates é agora acusado de ser o seu autor criminoso. O debate em relação às virtudes e defeitos do anterior governo é tão sério como muitas das dezenas de acusações que já foram feitas a Sócrates nos últimos tempos. Tenho muitas dúvidas de que uma programa político que tenta iludir o passado recente e se fundamenta sobre mentiras relativamente ao um governo anterior mereça um mínimo de credibilidade, sucedendo o mesmo com os políticos de pequena dimensão que o sustentam.