sexta-feira, janeiro 09, 2015

E quem atacou Portugal?

Uma das vítimas colaterais dos atentados de Paris é a própria realidade, à excepção do Correio da Manhã que parece continua a considerar Évora como o centro de todas as preocupações toda a comunicação social portuguesa está concentrada nos atentados de Paris. De um dia para o outro nasceram especialistas em Estado Islâmico como se fosse cogumelos de viveiro, os canais de informação desmultiplicam-se em directos a partir de França e debate de comentadores que falam do tema com um ar compenetrado.
  
Em dois dias as televisões portuguesas já dedicaram mais horas de informação ao extremismo islâmico do que deram ao longo do último ano à guerra no Iraque e na Síria ou aos 300.000 sírios mortos, sem falar dos deslocados e refugiados. Todos os dias há combates em Kobani e esta batalha que decorre desde Setembro e onde já morreram muitas centenas de jihadistas. Kobani só foi notícia quando morreu um jihadista português que nesse dia teve o seu momento de glória, ao ser martirizado deve direito à sua quota de virgens e ainda ganhou a fama no seu país.
  
É evidente que os atentados de Paris merecem toda a informação que lhe seja dada, o problema é que há coisas a acontecerem em Portugal que também merecem ser notícias. E nem sequer faltam mortos que poderão ter resultado dos ataques de um inimigo dos portugueses chamado incompetência. 
  
Em Portugal já morreu quase meia dúzia de portugueses devido a abandono pelos serviços médicos e o assunto deixou de merecer qualquer importância. Paulo macedo mandou um secretário de Estado à frente, que deu uma entrevista na TVI24, e no dia em que foi ao parlamento foi salvo pela incompetência da oposição que nem sequer exigiu a sua demissão, enquanto os atentados de Paris o pouparam a mais atenções.
  
No Público soube-se que uns velhos amigos de Passos Coelho descobriram petróleo por tudo quanto é canto, uma descoberta que se seguiu a uma reunião com o primeiro-ministro e que agora está sendo negociada, querem oito milhões a troco da informação que nos porá a concorrer com a Arábia Saudita. Curiosamente é gente ligada à empresa onde trabalhou Passos Coelho e que no tempo de Durão Barroso tentaram comprar a GALP com dinheiro emprestado pela CGD. Razão tinha o Álvaro Santos Pereira que acreditava que em matéria de recursos naturais Portugal era uma Angola da Europa.
  
E enquanto continuamos a ver as televisões tratar o que se passa em Paris como os seus jornalistas a dar palpites sobre quanto tempo vai demorar a operação da polícia, como se fosse uma caça à raposa, a realidade portuguesa teve uma interrupção não se prevendo em que momento será retomada.