quarta-feira, novembro 05, 2014

O zé das medalhas

Confesso que acho essa coisa das medalhas, taças, condecorações rituais ridículos, a não ser que a medalha simbolize um resultado desportivo e mesmo assim o que não falta em muitas casas de leilões por esse mundo fora medalhas olímpicas à venda. Ainda houve um tempo em que os monarcas agraciavam os seus militares mais valorosos com títulos e herdades o que dava jeito, imagine-se, por exemplo, o Cavaco a agraciar o Durão Barroso com a Herdade da Comporta ou a Herdade da Palma pelos seus actos valorosos, ele que se deixou entalar no portão de Bruxelas para forçar uma descida nas taxas de juros.
  
Mas aquilo não passa de um mero símbolo de lata com banho microscópico de ouro que só serve para decorar a urna no dia do funeral. Ainda por cima há neste país uma verdadeira mania das medalhas e um dia destes será mais fácil e barato para o erário dar uma medalha a quem não é condecorado. Não há nenhuma personalidade que tenha aparecido mais de duas vezes na televisão que não tenha em casa uma montra cheia de medalhas, comendas e condecorações.
  
Por isso é-me indiferente se Durão Barroso levou uma condecoração ou se essa condecoração só pode ser dado a cabos da tropa ou a presidentes. Como fez questão de realçar Cavaco , é ele o patrão das ordens honorífica e, portanto, é ele que decide a quem dá a medalha, digamos que é o Zé das medalhas que decide qual a medalha que deve ser dada a Durão Barroso e ele lá sabe porque razão não dá uma medalhinha ao José Sócrates.
  
E se Cavaco faz questão de dizer que é ele quem decide quem leva medalhas e que representa o país, daí que Durão tenha vista na medalha dada por Cavaco a gratidão nacional, quem receber uma medalha não recebe uma medalha qualquer, as ordens passam a ter a designação tradicional a que é acrescida a designação “e de Cavaco Silva”. Assim, Durão Barroso foi agraciado com a Orem do Infante D. Henrique e Cavaco Silva.
  
Ora se a medalha é a projecção nacional do sentimento de gratidão e apadrinhamento da Quinta da Conchas não faz sentido que José Sócrates seja agraciado com uma comenda atribuída pelo Zé das Medalhas da Quinta das Conchas, mesmo que se saiba que a atribuição de comendas aos primeiros-ministros tem mais ou menos o  mesmo valor que têm  os passaportes das exposições universais.
  
Em qualquer dos casos e como se fala tanto de José Sócrates seria muito interessante reflectir sobre o que Sócrates fez de bom e de mau e sobre a suas virtudes e os seus erros. Se a direita é idiota ao tentar transformar Sócrates num fantasma sucessor do fantasma do Vasco Gonçalves, o PS erra ao querer endeusar o ex-primeiro-ministro encontrando nele apenas virtudes. O debate que menos interessa à direita é precisamente este pois confronta-a com os seus próprios erros.