sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Cinismo


A demissão de Correia de Campos permitiu pôr em evidência a hipocrisia que grassa por este país, seja no meio jornalístico, nos corredores do poder ou nos comentadores. Durante dois anos foram muito poucos o que tomaram uma posição pública em apoio do desempenho de Correia de Campos, do seu desempenho ou da sua política.

Logo nos primeiros meses teve que enfrentar as investidas do aparelho do PS quando fez nomeações em função da competência sem seguir as sugestões partidárias. Talvez por isso Jorge Coelho se tenha limitado a escrever Em relação a Correia de Campos e Isabel Pires de Lima é justo que se lhes faça uma menção. Fizeram parte de um Governo que está a fazer reformas profundas. Com mais ou menos sucesso pessoal no desempenho dos cargos, tiveram a coragem de decidir no que entenderam como as decisões mais justas». Nem uma palavra de apoio, como se os ex-ministro e, em particular, Correia de Campos merecessem uma palavra de elogio. Foram meros executores de reformas e caíram em desgraça por causa das suas próprias decisões, que terão considerado serem as mais justas.

Aliás, não foi só Jorge Coelho, o “santo protector” dos boys do PS que criticou e terá ficado agradado com a saída do PS, neste capítulo os todos os boys partilharam a alegria do Litério da Anadia, o próprio Manuel Alegre falou como se a sua derrota nas presidenciais tivesse sido vingada.

Também foi necessário Correia de Campos ser demitido para que o jornal “Público” tivesse publicado um editorial a elogiar um membro do governo, mais exactamente um ministro demitido, Correia de Campos.

Bem mais longe foi Pacheco Pereira que fez um dos maiores elogios a Correia de Campos, um gesto de “coragem” pois Pacheco fica para a história como o comentador que elogiou Correia de Campos num momento em que seria mais fácil fazer como quase todos os outros. Só que esta coragem de Pacheco Pereira só sucedeu quando Correia de Campos foi demitido, nunca antes tinha elogiado a política para a saúde ou a sua decisão. De qualquer das formas ainda teve a coragem que Jorge Coelho não teve.

O próprio Sócrates num dia tentou obter proveitos políticos dando a entender que vinha aí o diálogo e uma melhor gestão do SNS para que no dia seguinte, depois de ter ouvido muita gente defender as reformas de Correia de Campos, já vir assegurar que as reformas eram para continuar. A própria ministra empossada ainda andou a gaguejar até que acertou o passo com a rectificação no discurso do primeiro-ministro.

Estou de acordo com um amigo com que me cruzei durante a hora de almoço, foi demasiado cinismo e hipoocrisia.