quinta-feira, outubro 25, 2007

O ensino e a (des)igualdade social


Os rankings das escolas secundárias que vão sendo divulgados todos os anos mostram que a massificação do ensino não resultou em maior igualdade social, antes pelo contrário, o sucesso das escolas privadas evidenciam que o actual modelo de ensino gera desigualdades. Os mais pobres poderão ter agora mais oportunidades de aceder ao ensino, concluir a escolaridade obrigatória ou mesmo conseguir um curso universitário, mas isso não significa maior igualdade social.

Há sinais evidentes de que o ensino é gerador de desigualdades, são os mais pobres que procuram as universidades privadas, são os mais ricos que acedem a cursos como medicina ou os cursos mais procurados das universidades públicas. Há desigualdade no acesso aos cursos competitivos e ao nível da qualidade da formação adquirida.

Enquanto estudei vivi numa residência universitária onde muitos dos que lá residiam vieram a Lisboa pela primeira vez quando entraram na universidade, a maioria tinha dinheiro para comer porque beneficiavam de subsídios. Apesar disso metade dos que comigo partilhavam a Residência Universitária Ribeiro Santos eram estudantes de medicina no Santa Maria ou de direito na Faculdade de Direito de Lisboa. Dez anos mais tarde nenhum estudante de medicina tinha pedido apoio nos serviços sociais universitários.

O actual modelo de acesso às universidades favorece os que beneficiam de melhor qualidade de ensino e de acesso a informação, ao contrário do que sucedia no passado quando ricos e pobres dispunham dos mesmos manuais e das mesmas escolas. Agora a qualidade do ensino a que um aluno acede e os recursos pedagógicos de que beneficiam depende da sua condição económica. Há escolas para todos, mas mais do que no passado há escolas para ricos e para pobres.

Para além de estarem em vantagem no plano social os mais ricos conseguem hoje uma vantagem adicional proporcionada por um sistema de ensino profundamente dualista, onde para uns se procura a excelência e para muitos outros apenas se ambiciona que concluam a escolaridade obrigatória. Os mais pobres andam em escolas onde o objectivo é não chumbar, os mais ricos andam em escolas onde o objectivo é obter melhores classificações. Os mais pobres, quando podem, pagam explicações para não chumbarem, os mais ricos pagam explicações para terem notas ainda mais altas.

O actual modelo de ensino público está a aprofundar as desigualdades, consolidando-as. Os resultados são evidentes, os licenciados em gestão nos cursos para pobres vão para balconistas da banca enquanto os licenciados nas universidades para riscos dão acesso aos MBA, ao doutoramento e a cargos de gestão. Na medicina esta divisão nem sequer existe, os mais pobres foram banidos das universidades.

Não basta assegurar a igualdade no acesso ao ensino importa também que esse ensino proporcione igualdade.