quarta-feira, abril 18, 2007

A bajulação


No meio de todo este movimento nacional para que o nome de José Sócrates seja inscrito no Guiness como sendo o possuidor do diploma universitário com mais erros administrativos, que não abona nova em favor do ensino universitário português e promove todos os licenciados naquela universidade a pós-graduados do ensino secundário, o momento que mais me incomodou ocorreu durante a conferência de imprensa dada pelo ministro Mariano Gago, foi de tal forma que quem ficou a gaguejar fui eu.

Numa manifestação do seu fervor elegeu Sócrates como o cidadão modelo das “novas oportunidades”, elegendo-o como o símbolo daqueles que regressam à escola arrependidos de não terem seguido o velho ditado “não deixes para amanhã o que podes fazer hoje”. Mariano Gago não resistiu à bajulação, que combinada com a subserviência quase canina marca todo o Estado.

O director-geral bajula o secretário de estado, o secretário de estado bajula o ministro e o ministro bajula o primeiro-ministro o que significa que o director-geral pensa o que pressente ser a opinião do secretário de estado, este faz um esforço permanente para dizer o que o ministro já disse e o ministro tem por principal função ser o intérprete oficial da opinião do primeiro-ministro. Quem não for bajulador e subserviente é um mau intérprete da política governamental e arrisca-se a perder a valiosa confiança política, passaporte indispensável para uma carreira de sucesso.

Os que nos vale é que nem o primeiro-ministro usa bigode nem já estamos no tempo em que todos os militantes do MRPP que queriam dar prova da sua fidelidade rigorosa aos princípios do marxismo-leninismo usavam um bigode igual ao do líder do proletariado. Porque se estivéssemos nesse tempo o ministro Mariano Gago teria ido um pouco mais longe e teria proposto que fosse concedido um doutoramento honoris causa ao lic. Sócrates, lembrando-nos o tempo em que sempre que Nicolau Ceauşescu visitava o Ocidente em visita de estado a sua esposa, Elena Ceauşescu [Link] (que só tinha a quarta classe e era designada pelo partido comunista romeno por Vice-presidente, camarada, académica, doutora, engenheira Elena Ceauşescu), era agraciada com mais um doutoramento honoris causa em homenagem à sua brilhante carreira como química de renome internacional.

Pior do que a colecção de erros administrativos do diploma de Sócrates têm sido os tiques de culto da personalidade que têm sido revelados, de que o excesso de bajulação protagonizado por Mariano Gago foi um exemplo. Esta cultura, típica de uma Administração Pública que ainda se rege pelos valores adquiridos no tempo de Salazar, leva a que a imitação dos valores do chefe seja uma regra, muita gente que no tempo de Guterres foram modelos de diálogo tenham regressado com Sócrates transvertidos em pequenos ditadores.