quarta-feira, dezembro 13, 2006

E nem tive direito a ver a miúda do gás...


Não foram a perna da miúda do gás que me levaram a uma estação de serviço da GALP Energia, (a empresa que se abusivamente se considera a "energia oficial de Portugal", o melhor que e arranjou já que por cá não há os fornecedores da rainha) nem a minha escolha do quentinho do hotspot tinha algo de libidinoso, como sugere a Katrin nas campanhas comerciais. Quis experimentar o aquecedor a gás da GALP, o Hotspot, e aí começou mais uma odisseia, uma daquelas experiências que nos confrontam com a nossa qualidade de caninos, pois é assim que algumas das nossas empresas mais "modernaças" tratam os seus clientes.

Lá fui eu à estação de serviço da GALP localizada no Eixo Norte-Sul, em Lisboa, mas sem qualquer esperança de ter a sorte de ser atendido pela miúda do gás, isso é coisa que em Portugal costuma suceder com maior frequência nos corredores das administrações, onde se aplica a velha regra segundo a qual "quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é estúpido ou não tem arte".

Paguei o Hotspot, preenchi mais papéis do que os necessários para adquirir um automóvel, enchi o bolso com talões da caixa registadora acabando por desembolsar €142.20, €119.80 para o aquecedor, 18.20 para uma daquelas garrafas que têm umas das melhores pernas que já vi, e mais €5 de caução. Acertado o negócio, preenchida a papelada e pago o montante através de multibanco, lá fui buscar o aparelho mais a respectiva garrafa.

Hotspot havia, mas as garrafas estavam esgotadas, podia receber o dinheiro de volta e ir, por minha conta e risco, em busca da dita noutra estação de serviço, ou teria de lá voltar quando a preciosidade estivesse disponível, optei por esta solução.

Depois de duas viagens e à falta de melhor lá podia aquecer os pés com o tal hotspot. Ligue o aparelho e fiquei logo desconfiado, a única forma de abrir e fechar o gás é através de um botão manhoso situado no redutor, isto é, temos que abrir a porta de acesso à garrafa e procurar esse botão às apalpadelas.

Já com os pés quentinhos e com algum cheiro a gás em casa decidi desligar o aparelho e tive direito a mais uma surpresa, depois de rodar o botão para posição indicada nas instruções o aquecedor continuava ligado, ou seja o redutor estava avariado, facto indiciador de que nem sequer tinha sido testado, algo inadmissível estando em causa uma garrafa de gás. Desliguei-o soprando na chama.

Decidi ir trocar o Hotspot e, portanto, fui retirar a garrafa, e lá veio mais uma surpresa, o tal botão estava mesmo avariado e o redutor não saía. Quanto a instruções sobre a forma de retirar o redutor nada, parece que quem as escreveu pensava que os aquecedores se destinavam ao mercado francês pois alguém se esqueceu do português. Não sou defensor das instruções de utilização do papel higiénico, como fazem na América, mas convenhamos que para retirar uma garrafa de gás uma ajudinha dá jeito.
Mas de nada me seviriam as instruções pois tive mais uma surpresa, a avaria do botão impedia a saída do redutor. Lá tive que carregar a garrafa, o Hotspot e mais um torcicolo me impediu de imitar a passada da miúda dos anúncios. Bem, cheguei mais uma vez à estação de serviço que, infelizmente, não dá descontos a clientes frequentes. Com a ajuda de dois colaboradores da empresa, da sua simpatia e mais um alicate conseguiu-se retirar o redutor que insistia em estar tão preso à garrafa quanto muitos dos clientes da GALP gostariam de estar à Katrina, agora era só colocar a garrafa no Hotspot que estava reservado para a troca.

Sucede que o novo Hotspot também tinha o botão do redutor avariado, pior ainda, o exemplar que estava em exposição tinha o botão partido. Foi então que eu achei que não queria ir fazer companhia ao Pinochet tão cedo, e muito menos recorrendo a uma cremação caseira, optei por ficar com o pezinhos frios mas com os dedos a mexer e pedir a devolução do dinheiro. Sim senhor, disseram-me, mas com um pequeno problema, devolviam-me os €119.80 do Hotspot, mais os €5.00 da caução, mas acabava-se aí o negócio pois a garrafa já tinha sido usada. A alternativa era levar a garrafa para casa, mas como uso gás natural e não considero a pluma suficientemente libidinosa para a meter aos pés da cama optei por oferecer a garrafa à GALP.

Comprei uma garrafa porque era necessária para o Hotspot, coloquei em risco a minha segurança, e quando pretendi devolver o Hotspot mais a garrafa disseram-me que já a tinha usado e por isso não tinha direito ao reembolso do que paguei. Conclusão, paguei €18.2o pela minha experiência com a GALP, mais as três viagens que tive que fazer à sua estação de serviço, todos os funcionários que me atenderam tinham barba e tive que ir ao Youtube para voltar a aquecer a imaginação à conta da miúda do gás.
É assim a energia oficial de Portugal, apenas se aproveita a rapariga que, por sinal, até veio da Polónia.
Aditamento: Antes da publicação deste post enviei mail para a GALP Gás avisando a empresa. Na sequência desse mail ou, eventualmente, de procedimento internos da empresa associados à devolução, recebi um telefonema da empresa, foi-me apresentado um pedido de desculpas e combinado o procedimento para a devolução do montante correspondente à garrafa de gás e, se eu assim entendesse, para a compra de um novo aparelho com a qualidade garantida.