segunda-feira, outubro 16, 2006

Os Grandes Portugueses

Anda por aí uma grande celeuma em torno das escolhas dos “candidatos” a maior português, parece que se esqueceram de incluir Salazar na lista oficial. E ainda falta ouvir a voz grossa do poeta Manuel Alegre que ganhou as eleições ao político Soares e que ao contrário do seu opositor não consta da lista, nem como político, nem como poeta. E pela mesmo critério os três pastorinhos, beatificados e a caminho da santidade, se poderão queixar de esquecimento, já que na lista constam prelados sem tal bênção, aliás, não entendo porque motivo os que se lembraram de Salazar não repararam que estando a Amália e o Eusébio a lista ficaria incompleta sem o Cardeal Cerejeira e os três pastorinhos.

Mas não participo nesta coisa das escolhas, senão proporia o Chavelhita, o homem que vendia os jornais na minha terra, e pelo qual sempre tenho mais consideração do que por Salazar.

O que me levou a visitar a página do concurso da RTP [Link] foi tentar conhecer melhor este país, e olhando para aqueles que a Estação do Estado considera ser os melhores entre todos os portugueses cheguei à conclusão de que fica muita coisa explicada.

Classificando os "candidatos" pelo domínio em que se destacaram temos:

  • 105 homens e mulheres da cultura.
  • 57 políticos.
  • 22 cientistas.
  • 12 exploradores.
  • 8 desportista.
  • 7 arquitectos.
  • 6 Economistas
  • 6 religiosos.
  • 4 Filósofos.

Desde logo ficamos a perceber que porque motivo alguns cursos universitários estão a abarrotar, enquanto outros, os que dão emprego, ficam às moscas, somos um país de poetas e políticos, e quanto a cientistas ficamo-nos pelos médicos e, talvez isto tenha alguma explicação, o nosso forte é a neurologia.

Há qualquer coisa de errado num país onde são muitos os que pedem ajuda ao vizinho para ler as instruções da máquina de lavar, e se não fossem os livros escolares já não existiram livrarias, e o maior volume de candidatos a maior português pertencem ao mundo da cultura, com destaque para poetas e escritores.

Da mesma forma não se percebe como num país que quase sempre foi mal governado os políticos seja precisamente o segundo maior lote de "candidatos". Temos mais políticos que todas as categorias da ciência e do pensamento juntas, os cientistas, exploradores, arquitectos, e filósofos, e economistas totalizam cinquenta e um, contra a longa lista dos cinquenta e sete políticos. E quando o nosso D. Duarte tiver tempo para ler a lista a situação vai agravar-se, uma boa parte dos nossos monarcas foram excluídos, ainda que se constate o regresso do D. Sebastião. mesmo sem ter havido nevoeiro.

O que nos sobra em políticos falta-nos em exploradores, cientistas, economistas, arquitectos ou filósofos. A situação é ainda mais grave se considerarmos que os exploradores são quase todos de outros tempos, exceptuando Gago Coutinho e Sacadura Cabral (que não exploraram nada), Roberto Ivens ou Serpa Pinto. Já quanto a empresários a situação é ainda pior, são quase todos da primeira metade do Século XX e do grupo escolhido apenas um está vivo e, ainda por cima, nenhum dos falecido deixou herdeiro na lista.

Frustrante deve se a situação dos homens e mulheres da cultura que estão condenados a viver dos políticos, por aquilo que se vê serão estes os únicos que podem comprar cultura, fica-lhes bem dizer que livros vão ler nas férias e as obras de arte são uma boa alternativa aos sacos de plástico com notas de quinhentos euros.

Do mal, o menos, com estas elites resta-nos contar com seis religiosos, se não temos cientistas e empresários resta-nos entregar a alma ao cuidado de santos e prelado, ao menos temos quem reze por nós e quem nos proteja depois de mortos já que em vida a esperança é pouca, nem as infantilidades do ministro Manuel Pinho nos animam.

A conclusão é simples, em Portugal discute-se muito, pensa-se pouco, trabalha-se ainda menos e reza-se quanto baste.