quinta-feira, setembro 07, 2006

Refundar ou refundir a direita?

Confesso que o conceito da refundação da direita me confunde, a direita que temos nunca foi fundada, resultou de um processo histórico durante o qual se foi adaptando às circunstâncias.

O PPD era e ainda hoje é um partido feito de dois partidos, o PPD da capital, herdeiro da ala liberal da Assembleia Nacional, e o PPD da província que juntou os perdoados do antigo regime. Passados 30 anos e depois de muitas convulsões, da adesão de uma boa parte da extrema esquerda, do MRPP de Durão Barroso à OCMLP de Pacheco Pereira, da integração de muitos dos que o PSD promoveu enquanto foi poder, o PPD transformou-se em PSD. O PSD de hoje está para a política assim como o Cozido à Portuguesa está para a gastronomia, tal como no cozido o importante é mais encher o bandulho do que satisfazer o paladar, para o PSD o importante é mais importante o usufruto do poder dos que os seus valores, que ninguém sabe muito bem quais são.

Sem uma nova geração de políticos da apregoada refundação sairá uma direita que traduza uma ruptura com o passado? Penso que não, com os políticos de direita a refundação não passa de uma refundição, o que não seria novidade pois o próprio PSD não passa de uma refundição de todos os que queriam ser poder e ou não eram ou não tinham lugar no PS ou tinham vergonha de se assumir de direita.

Interrogo-me sobre o que resultaria da fundição de Manuela Ferreira Leite com o Paulo Portas, ou de Dias Loureiro com o António Preto, de Luís Filipe Menezes com a Paula Teixeira da Cruz, ou mesmo do Adriano Moreira com o António Borges. Poder-se-á refundar a direita recorrendo às mesmas ideias e personagens?

É evidente que para as centenas de personalidade para quem a política significa poder, e poder significa benefícios económicos ou estatuto social não faz sentido refundir e, muito menos, refundar. Esta direita ainda está convencida de que Santana Lopes é o responsável por estar na oposição, estar na oposição é um acidente, resulta mais da ignorância dos eleitores do que da sua incapacidade para governar, para esta direita não há longo prazo, não se refunda nem se refunde, ser governo é a ordem natural das coisas e, a não ser que sofra nova derrota nas legislativas, não vai querer perceber que a direita resultante do marcelismo se esgotou.

A direita precisa de novas ideias, de novos projectos e, acima de tudo, de novas caras, qualquer processo de refundação com os personagens actuais corresponde, para voltar à gastronomia, a evoluir do Cozido à Portuguesa para a Roupa Velha. Mais do que de novas receitas a direita precisa de ingredientes frecos, não basta cozinhar os herdeiros do intervencionismos com as novas ideias do liberalismo e apresentar o prato como sendo da melhor gastronomia francesa.