quinta-feira, setembro 14, 2006

O silêncio e a corrupção



Coincidência ou não, o Governo decidiu considerar uma prioridade a corrupção no domínio do desporto numa ocasião em que este problema é alvo da comunicação social. Trata-se de uma iniciativa meritória as que também é preocupantes pois o combate à corrupção deveria ser uma prioridade desde o primeiro dia e em todos os domínios da sociedade.

Desde os tempos do Independente de Paulo Portas que o tema corrupção é incómodo para qualquer governo, os políticos passaram a ser vistos como gente corrupta e os que estão no Governo quase o são por definição. Discutir a corrupção acarreta problemas de imagem para qualquer governo já que ao primeiro indício o dedo é logo apontado ao governante, se um modesto funcionário da saúde faz alguma a oposição vai logo pedir explicações a ministro da Saúde, antes de qualquer julgamento o ministro passa à condição de suspeito ou de conivente.

Não sou defensor de espalhafato e até estou convencido que as guerras na imprensa, alimentadas por operações cirúrgicas e fuga ao segredo de justiça, são promovidas por gruos de interesse corruptos que ao conseguirem limpezas acabam por se livrar de pessoas incómodas, na maior parte dos casos os corruptos ficam e os honestos são as vítimas. Até porque a maioria das fugas a segredo de justiça poderão muitas delas ser conseguidas à custa de corrupção pois os dossiers da polícia ou dos magistrados não estão à disposição dos jornalistas na Biblioteca Nacional.

“Rebobinem-se” muitos dos debates e questione-se porque motivo alguns dos que mais falaram do combate à corrupção estão calados, será que o flagelo foi eliminado? O que terá levado essas personalidades a ficarem em silêncio?

A corrupção reprime-se mas todos sabemos que neste capítulo a justiça só apanha arraia-miúda, veja o caso da Operação Furacão, não existem fugas ao segredo de justiça e até ver parece que o vento já amainou. Mas mais eficaz do que a repressão é o combate através dos instrumentos de gestão, desde a gestão criteriosa dos recursos humanos e a nomeação de gente honesta para os lugares de chefia até à adopção de procedimentos de gestão que não favoreçam a corrupção e a extorsão.

Com ruído ou sem ruído é urgente o combate à corrupção, um entrave ao desenvolvimento que muito provavelmente é quase tão grave como o défice orçamental, aliás, os dois problemas até andam de mão dada.